Às vésperas da invasão russa, Serra, o político que prometia despolitizar a política externa, precisa explicar suspeita de caixa 2 na Suíça
Eremildo, o idiota das colunas de Elio Gaspari, provavelmente acreditou na conversa do novo ministro das Relações Exteriores quando anunciou, ao assumir o posto, que a política externa voltaria a servir ao país, jamais a um partido. A conversa talvez não soasse tão estranha se o novo chanceler fosse um diplomata de carreira, como os antecessores, e não um dos fundadores de seu partido, o PSDB, pelo qual foi eleito senador – cargo deixado em segundo plano, tal como fizera quando prefeito e governador, para se dedicar a outros assuntos.
Em tempos normais, a conversa sobre a despolitização da política externa a cargo de um político de quatro costados, que já assumira com um discurso político, faria tanto sentido quanto acreditar que a moralização da política brasileira, no auge dos protestos anticorrupção, seria conduzida pela velha guarda do PMDB, sócia do governo anterior enquanto durou o casamento, e na mira da metralhadora ponto cem citada pelo patriarca José Sarney ao se referir à delação da Odebrecht, a empreiteira que na cabeça do cidadão menos atento ao jogo de ligar pontos só abria o bolso para beneficiar o amigo torcedor do clube que ganhara o seu estádio e ficara com a conta a pagar.
Pois bem. Reportagem publicada nesta sexta-feira pela Folha de S.Paulo revelou que a mesma empreiteira apontou à Lava Jato o nome de dois operadores tucanos responsáveis por intermediar, via caixa 2, R$ 23 milhões para a campanha em 2010 de José Serra (PSDB), o chanceler que ia revolucionar a política externa, por meio de uma conta na Suíça.
Em outros tempos dizia-se que saídas para a crise como esta, patrocinada pelo Congresso e movimentos apartidários bancados por partidos de oposição, equivalia a deixar a raposa tomar conta do galinheiro.
Mas os tempos não são normais, e os Eremildos, arquétipos dos cidadãos que leem o que não querem e entendem o que querem, são muitos. Parte deles gasta o tempo restante de vida no Twitter e provavelmente considerou razoável o alerta da doutora Janaina Paschoal, a jurista que bancou o impeachment e jura que...continue aqui.
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